quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015



SAUDADE

Deitei numa cama
de capim.
Deitei meu olhar no horizonte,
no jardim.
Deitei meu corpo cansado.
Foi assim.
...
Apesar da lágrima,
Da sensação de vazio.
Apesar do frio.
Tu foste o calor que me acendeu.
Foste uma pena.
O vento te levou.
Tuas palavras ecoam na distância.
Teus risos perambulam pelo vale.
E teus olhos se deitaram
na terra do nunca mais.

sonia delsin 


AS SAIAS RODADAS

Elas giram
As moças
As lindas moças das saias rodadas
Dão risadas
São risos cristalinos
Busco os meninos
E eles se ausentaram
Ficaram elas e as saias vermelhas
Lindas, são lindas dançando
E cantam lindamente também
E riem, e riem...
A mais não poder
Observo tudo
E me ponho a escrever
Contar das saias?
Dos risos?
Do ontem?
Do agora?
Não as deixo ir embora
As moças das saias vermelhas rodadas

sonia delsin


SORRISO ETERNO

preciso de teu riso
que ele venha à tona!
ainda que ele não venha esfuziante de vida
preciso de teu sorriso “olhos” e  “coração”
preciso de teu sorriso
pra me manter mais tempo no chão
ando por outros espaços caçando o teu sorriso
busco-o sedenta
busco-o
vivo a buscá-lo na imensidão
e preciso de mais tempo aqui
há horas em que não me sinto presa ao solo
há horas que flutuo, volito
adejando busco o teu sorriso
será que ficou em alguma estrela esquecido?
será que se mantém adormecido?
será que se perdeu?
será que teu sorriso morreu?
ou se transformou?
virou uma lágrima e escorregou?
no deserto ele penetrou?
que foi feito do teu sorriso?
não posso desistir de buscá-lo
ainda que nunca mais eu o encontre
ainda assim
porque por mais que ele não apareça
ele continua existindo em mim

sonia delsin


QUERO TE ABRAÇAR

Quero derrubar
... as barreiras
Quero te abraçar
A ti me ligar
Na corrente da vida conectar
O que as vicissitudes não conseguiram arruinar

A força do amar

sonia delsin


SONHOS NO ARMÁRIO

Nem tu
Nem eu
Não entendíamos os acontecimentos
Não compreendíamos os sentimentos
O incêndio no peito
O mundo ficando lindo, sem defeito
...
E de repente o vazio
O quarto frio
O mundo perdendo o colorido
Tudo perdendo o sentido
Desabados
Acabados
Desesperançados
Dois desgraçados?
...
Não
Duas aves num voo solitário
Guardados todos os sonhos no armário
Pra outro tempo


sonia delsin


NOUTRO TEMPO, TALVEZ

Não me procuravas
Nem eu
Tampouco eu te procurava
Íamos vivendo simplesmente
E nos encontramos de uma forma diferente
Marcou nossa vida aquele encontro?
Já viemos com destino pronto?
Me disseste:
Estou tonto, estou tonto
Duma boa tonteira
... porém, porém...
Nem todos os encontros são definitivos
Nem mesmo os reencontros explicam tudo
Ainda não
O mundo disse: ainda não!
E partimos de nós
Talvez nos encontremos de novo

Noutro tempo, noutra dimensão

sonia delsin


BORBOLETANDO

Ela vai de flor em flor
É um amor
Vive a borboletar
Que é o seu destino
Voar, revoar
Vem todos os dias o meu jardim visitar


sonia delsin


MEU FANTASMA BONZINHO

Meu “fantasminha” chega de mansinho
Ao meu lado se instala devagarzinho
E bate um papo comigo
Um papo diferente
Não nos falamos com palavras
Nem com olhares
Nem mímica
É algo diferente
E as ciências não explicam
Nós nos falamos com a sensibilidade
Viajamos a bem da verdade
Pra outros espaços

Espaços dentro de mim

sonia delsin 


NO MAR... DO TEU OLHAR

Deixei meu olhar se arrastar pro mar
Deixei meus olhos presos no mar

No mar de teu olhar

sonia delsin


ASAS MACHUCADAS

Buscava em teus braços o repouso
Queria pouso
Era ave cansada
Buscava em ti um abrigo, conforto,
porto
Buscava em ti amor
E te oferecia o meu
Cansada, ferida, dolorida
No meu caminho de dor
Eu ainda te oferecia o que tinha: amor
Mas parecias não entender
Tinhas olhos fechados
Tinhas medos
Dizias que a vida te deixara marcas
Marcas!
Marcas!
Se temos os passos guardados?
Os pregos que nos feriram foram todos retirados
...buscava um porto, conforto
E não entendeste
Vias somente o anjo torto
O anjo de asas machucadas


sonia delsin
ENFIM!

Muitos diriam
-- Que destino duro!
Precisavas romper o casulo
Que longo tempo de crisálida!
Que longa espera!
Posso quase vê-la num outro espaço a volitar
O que buscavas, foste encontrar?
Teus grandes olhos enfim se abriram para outras realidades?
Um dia nos reencontraremos? Destas coisas conversaremos?
Ou serão outras conversas?
Teremos tempo para uma confabulação nesta imensidão?


sonia delsin

FOGO CALADO

tinhas o dom
em mim tinhas despertado
a menina que te entregava carinho
a mulher que nas madrugadas
chegava devagarzinho
vieste acender meu fogo calado
por ti o que não teria dado?
fecho os olhos, amado
e te enxergo nas brumas do tempo
tinhas um olhar que me matava
a fêmea despertava
viajava
...
viajava no céu da tua boca
ficava meio louca
...
desvairada
varava a madrugada
a sonhar
a sonhar
a esperar
e te demoravas
propositalmente?
tudo era desproporcional
o amor sem igual
o amor sem medida
a hora perdida
tu na minha vida


sonia delsin