domingo, 30 de novembro de 2014

SINTO SAUDADES

sinto falta dos teus braços
me envolvendo
do teu olhar acariciador
dos teus cuidados
do teu amor
sinto saudades do teu cheiro
sinto saudades
das conversas que tínhamos
o mundo ficou mais quieto depois que partiste
eu me tornei um ser mais triste
tantas vezes revisito lugares do passado
fico ouvindo o silêncio
e buscando tuas palavras
pai, quando te enterraram eu pensei
nunca mais verei tua face
nunca mais sentirei teu olhar me cobrindo
com ternura
foi-se a coisa pura
...
mais tarde
bem mais tarde
descobri
a terra engoliu apenas tua matéria
tua essência vive eternamente
então fico mais contente
sei que um dia nos reencontraremos
e nos lembraremos
doutras vivências


sonia delsin


NAVEGANTE

Chego tão contente
Tão contente
À festa que minh’alma carecia
Eu que amo poesia
Chego à festa
Festa dos navegantes
Outras paragens
Dormindo fazemos viagens
Cheguei até aqui
E me pergunto:
Por que parti?
Foi preciso
...
O que digo pode parecer uma fala de louco
Mas me importo com isso?
Nenhum pouco
Sou assim
Navegadora
E andava estacionada num tempo outro
Vivência?
Experiência?
...
Que pena que ainda não posso me instalar definitivamente aqui!
Mas para as festividades eu vim
Um dia retornarei
Voltarei para ficar
Pelo menos um bom tempo
Aqui é o lugar que os poetas amam estar
Aqui costumamos nos encontrar
Quando nos permitimos
Quando nos permitimos
...
Aqui nós nos divertimos
Rimos, rimos
A mais não poder
Acho que vim reabastecer
Andava distraída
Vivendo outras facetas da vida
Andava distraída com miragens
Com passagens
... ainda bem que vim
Ainda bem


sonia delsin


QUERO TE FALAR

Na verdade o que quero é te segredar
Contar algo em teu ouvido
Bem baixinho
...
Quero te alertar
Estás no caminho errado
Vives em confronto com o passado
...
Vives a te afundar num abismo tal
Que por fim te fará grande mal
...
Quero te falar...
Vais me escutar?

sonia delsin


O ROSTO NAS SOMBRAS

Ela guardava um rosto
Na memória
Nas sombras que alimentava
Ela recordava
O rosto por vezes lhe aparecia sorridente
Tão contente
Noutras horas vinha entristecido
Ela pensava
Antes ter morrido
Do que viver assim
Com esta face sempre em mim
A me rodear
Um rosto que parecia lhe falar
Que parecia implorar
Não me esqueça, não me esqueça
Padeça

sonia delsin


VÉU

Pensamos
Onde fica o céu?
Há um véu
A nos envolver
Quando será que vamos entender?
...
Acorde, humanidade!
Acorde!


sonia delsin


TUAS NEGATIVAS

tu me matas
tu maltratas
o meu pobre coração
quantas vezes o que eu pedia era tão somente tua mão
eu esmolava amor
e amor não se deve esmolar
cada um entrega o que tem para entregar

tu não consegues amar

sonia delsin


CORAÇÃO

Calma, coração
Este ritmo acelerado lhe está prejudicando
Vai se acalmando
Acalmando
Serenando
Que a paz vai lhe chegando

sonia delsin 

terça-feira, 25 de novembro de 2014



ORQUÍDEAS E HORTÊNSIAS

a cor
arroxeada
pobre hortênsia
na calçada jogada
que maldade, menino!
destruir tão bela flor
a orquídea também da cor arroxeada
num belo vaso arranjada
a hortênsia desfalecendo
a orquídea se envaidecendo
...
a moça vindo naquela direção
olhos fitos no chão
a mão no coração
a pensar: dia destes dormirei sob o caramanchão


 sonia delsin 


SEMPRE ME ESTENDENDO A MÃO

Caio ao chão
Estendo a mão branca
E me levantas
São tantas as lembranças, tantas
Teus olhinhos me sorris
São bem-te-vis
A gritar, a gritar, a gritar
Vou pra sempre te amar
Como é bom fantasiar!

sonia delsin 




DE VEZ EM QUANDO

De vez em quando venho te ver
Venho beber
Bebo da tua fonte
Na lembrança te bebo
Lambo
Me lambuzo
Acho que no imaginar abuso


sonia delsin 


S O S

Mangueira guerreira
Resistes ao vento
Às tempestades
Às maldades
- Se somos irmãos do chão
Do passarinho na amplidão
Por que o homem incendeia?
Por que o homem devasta o planeta?
Por que o homem não se endireita?
Por que não cuida da terra mãe?
Do animalzinho irmão?
A fauna e a flora choram, imploram:

Mais amor no coração

sonia delsin


SE FOSSE ASSIM

Passarinhos no capim
Se a vida fosse simples assim
E o homem dizia:
A dificuldade está em mim



sonia delsin

MORENANDO...

Deitava ao sol
Pra morenar
Fechava os olhos
Ia pra outro lugar
Ouvir o canto do mar

sonia delsin




UM TANTO

os potes esvaziaram
tombaram
no chão de cimento
as lembranças aguento?


sonia delsin 


PASSARINHO ASSOBIADOR

avião avoador
se acaso eu for
melhor passarinho assobiador
a sobrevoar as campinas
a encontrar as meninas
do outro lado do rio
as meninas a brincar
a cantar
a caçar
borboletas
e
cigarras
menina assobiadora sem amarras

sonia delsin


O QUE RESTOU?

- do ninho tão bem feito?

Dizem que a tudo sé dá um jeito.

sonia delsin 

DOIS JUNTINHOS

No ninho
No fio
Na amplidão
Dois pássaros

Adeus solidão

sonia delsin 



DESENCANTO

se eu fosse um verme
haveria de ser mais tanto
se acaso fosse um chinelo velho
haveria de ficar num canto
se porventura fosse uma lágrima
rolaria um quanto

desmancharia em pranto

sonia delsin 

A MÚSICA DA MINH’ALMA

Não silenciou
A música continuou
Se a ferida se ampliou ela modificou
Ficou mais nostálgica

A música da minh’alma me salvou

sonia delsin


QUERIA DE TI...

Queria de ti um beijo
Com gostinho de hortelã
Queria uma meia de lã
E uma cabana na montanha
Uma cama larga
Um colchão de madressilva
Um lampião
E queria a tua mão
...
Queria o ontem que guardo no peito
Queria o mundo sem defeito
O mundo das lembranças
Nós adultos
Nós crianças
Nós
...
Queria o passado
Tu ao meu lado
E as palavras que me sussurravas noutros tempos
Queria de ti um mundo que ficou guardado
...
Queria de ti o que já não me entregas
Queria aquela saia de pregas
E rodopiar pelo gramado


sonia delsin

quinta-feira, 13 de novembro de 2014



NÃO VOU CHORAR

Não vou mentir
Não vou chorar
Para que me espernear?
Lamentar?
Se creio firmemente que sua vida vai continuar?
Tudo, a seu tempo, perece
O que posso é lhe dedicar uma prece
E esperar
Porque uma hora vou lhe reencontrar
Noutro tempo
Noutro lugar
Não vou chorar
Não vou gritar
No meu coração vou lhe guardar


sonia delsin


TEUS INQUIETANTES OLHOS

eles caíram no abismo do mar
foram se deparar
com a sereia
que vive a cantar
foram desvendar
os segredos
do fundo do mar

sonia delsin




PASSARINHO
(dedicada a Manuel de Barros)


Sou passarinho
Passei
Voei
... (encantei) ...

sonia delsin


PRA QUÊ?

Não quero flores sobre minha lápide
Pra quê?
Eu não estarei ali
Não quero lágrimas depois que eu partir
Pra quê?
Quero agora
Ser confortada
Amparada
Amada
...
Quero flores agora
Quero sorrisos agora
Não quero nada depois que eu for embora
...
Pensando bem
Talvez eu queira uma prece
Um pensamento
Mas sem sofrimento
...
Não quero que sofram por mim
Quero que me imaginem passeando num jardim
A sorrir
E que sempre pensem que eu continuarei a existir


sonia delsin


EXERCITANDO O AMOR

Já não sinto o ontem
Ele se foi
Já não sinto o peso da bagagem
Já não me incomoda a viagem
Aos poucos fui compreendendo
Aprendendo
Chegou a hora de ir?
Não sei
Não sabemos
Não sabemos pela frente o que temos
Mas o importante é termos compreensão
Que as coisas que importam são as do coração
Tudo passa
Sensação
Emoção
Comoção
Tudo
E um dia nos damos conta que o que importa é a passagem
O bem que fazemos
As obras que praticamos
O quanto amamos


sonia delsin


UMA PASSAGEM POR AQUI

piso leve
esta vida é breve
um sopro
uma leve brisa
que a praia alisa
piso leve
suavemente
voltarei novamente?


 sonia delsin